sábado, 8 de agosto de 2009

Anjos de Mons

Uma das Lendas mais conhecidas da Primeira Guerra Mundial é a do "Anjo de Mons".
No conhecido milagre do Marne, após a batalha de Mons de 23 de Agosto de 1914, que havia terminado com um saldo de 1.600 baixas britânicas e o dobro de alemãs, as tropas britânicas realizaram um bem-sucedido retrocesso diante da pressão germânica. Durante essa retirada em ordem, os soldados deram mostra de esgotamento extremo, em alguns casos sofrendo verdadeiras alucinações, provocadas pelo cansaço e pela falta de sono.

Essas alucinações não mereceriam nenhuma atenção até que , em 24 de Abril de 1915, uma revista espírita divulgou uma suposta aparição de seres sobre naturais em Mons, que tinham como missão "proteger os soldados britânicos" na sua retirada. A partir daí, diferentes publicações começaram a oferecer detalhes inverossímeis desses seres protagonistas do ato milagroso. Os jornais asseguravam que nesse momento crítico havia aparecido a providencial figura de um anjo vestido com uma túnica branca, sobre um cavalo também da mesma cor, brandindo uma espada flamejante.
As descrições daquele que, a partir de então, seria conhecido como o Anjo de Mons diferiam de um jornal para o outro, já que alguns afirmavam que não se tratava de um anjo, mas sim de São Jorge, padroeiro da Inglaterra, empunhando a mesma lança com que matou o dragão, em vez da espada em chamas. Outras fontes afirmavam que não era apenas um anjo, mas toda uma legião, por isso esse fenômeno também é conhecido como o caso dos “Anjos de Mons”. As revistas também publicaram fotografias nas quais apareciam interpretações artísticas sobre o que os soldados supostamente teriam visto, o que ajudou a consolidar o mito, posto que muitos acreditaram que se tratavam de imagens reais, tiradas no campo de batalha.

A realidade é que os soldados que se retiraram de Mons sofreram todo tipo de visões coletivas. A fome, a sede, o cansaço e o estresse provocado pelos bombardeios ao longo de cinco dias da expedição fizeram os soldados caírem em um estado de sonolência que os fazia ver não só anjos, mas também castelos, fortalezas e todo tipo de exércitos celestiais.
Os soldados não deram a mínima importância a essas alucinações, mas a imprensa britânica, repercutindo as impressões relatadas por alguns deles, viram a oportunidade de alimentar o patriotismo das massas dando asas a uma lenda que perdura até hoje.
Em Fevereiro de 1930, aparecia uma curiosíssima explicação para o fenômeno, revelada pelo jornal londrino Daily News, na qual citavam fontes norte-americanas. Segundo essa informação, um ex-membro do serviço de inteligência alemão havia revelado que o Anjo de Mons, entre outras aparições, não passavam de uma imagem projetada sobre as nuvens. A visão fazia parte de um plano secreto dos alemães para acabar com o moral dos seus inimigos. A partir de um avião equipado com um projetor de cinema, iluminava-se as0 nuvens baixas, que tinham a função de tela. De acordo com os alemães, as tropas britânicas cairiam vítimas de um terror sobrenatural. Não obstante, o misterioso agente germânico reconhecia que o plano havia se voltado contra os alemães, e que os ingleses o aproveitaram em seu benefício. Obviamente, toda a história era uma invenção, mas ainda assim essa idéia absurda reapareceria na imprensa em princípios de 1940, dessa vez para afirmar que o Exército britânico dispunha de uma “lanterna mágica” para projetar imagens sobre as linhas alemãs.